quinta-feira, 14 de agosto de 2014

#4, #5 & #6 - WCT 2014 - DE VOLTA AO TOPO

Após longo e tenebroso inverno volto a publicar alguma coisa aqui no blog. Continuo acompanhando o surf competição, desde as etapas amadoras até a arena do CT, (vide Face e twitter do surfocracia) mas achar tempo para escrever anda cada vez mais difícil...então vamos lá...

Se Gabriel tivesse a personalidade e o desapego familiar que Mineiro tem, cravaria hoje que ele será campeão mundial este ano...mas não ele não tem. Creio que este vinculo com a terrinha e a família, esta "saudade" é o único grande ponto fraco do Medal. Não que seja algo ruim, longe disso, mas não é algo que ajuda na arena de leões que é o WCT. Este é, aliás, o único ponto fraco que persiste mais que uma ou duas etapas (como já disse mestre Adler ao final de 2012 quando Medina estreou chamando a Rainha do North Shore de Comadre). Mas vamos com calma, já volto neste assunto...

LÍDER DO RANKING

Passaram-se 3 etapas desde o último post. Literalmente tivemos mais do mesmo, já que essas etapas consagraram a segunda vitória de Bourez, Medina e Fanning no ano.

A bem da verdade a surpresa mesmo ficou com o Brasil. Quem disse que apostava em Bourez está mentindo, já que nem o próprio devia crer que venceria novamente ainda este ano. Com todo o respeito ao taitiano, ele está concorrente ao título, não é concorrente ao título.

Algo mudou no espartano este ano. Em termos competitivos ao menos. No surf, continua caindo muito da prancha e lhe falta harmonia, embora sobre força, mas é fato que esta mais esperto e competindo melhor, prova disso foi a bloqueada que deu no KS em Fiji, mostrando uma falta de respeito que só os campeões tem, o mesmo pode-se dizer da fase final do evento no Rio, quando não era o melhor surfista (Taj é que era) e mesmo assim, surfou com cabeça, fez nota na hora certa, trocou em horas melhores ainda e levantou um caneco inesperado.


Mick vive altos e baixo em 2014, perdeu para um inspirado campeão Brasileiro, David do Carmos, para ressurgir triunfante em J Bay

Esse ano, graças a problemas no meu escritório, perdi a maioria das baterias do CT RJ, coisas da vida...no pouco que presenciei ao vivo, pude constatar que Medina sofreu uma fatalidade, já que aquela onda que deu a virada ao prego do Travis não quebrou para mais ninguém naquele dia.

Mineiro caiu porque KS vendeu para ele uma onda que não existia. Ele achou o 10 e mais nada digno de nota. Malandragem do careca, que estava desde cedo observando as fechadeiras tortas do postinho e fez uma aposta que pagou bem. Mineiro, não fez nada errado, fez o normal. Caiu na péssima vala que existia em frente ao palanque. Adriano já tinha escutado reclamações mil em outras fases do campeonato, já que uma correnteza forte jogava os atletas para a direita do palanque, onde, inclusive, havia uma boa vala de esquerdas. Motivo pelo qual o diretor de prova, Renato Hickel (substituindo o Conspirador Perrow com uma temerosa praticidade), determinou que ondas surfadas além das boias sinalizadoras não seriam computadas.

Estranhamente o 10 do careca foi surfado além da boia localizada à esquerda do palanque. Como malandramente ele surfou a onda para a esquerda, a visão da juizada foi perfeita e não houve questionamento.

Adriano quando viu a roubada em que estava (uma kombi giga, de 15 lugares), saiu da água e da área de competição para ficar junto do KS, oportunidade em que percebeu que pagou por uma sony para levar uma cce...tanto que só arrancou um tubinho nota 2 e pouco...



Filipe perdeu numa bateria irada contra Bede. Filipe escolheu as menores e mais longas, enquanto o ozzie esperou as bombas. O mar estava acertando e foi show de surf...pena que o brazzo não passou.

Raoni eu só vi na primeira fase, quando fez um tubaço (ou seria tubasso?) para esquerda mas não conseguiu achar a segunda boa. Engraçado foi ver que KS e outros gringos "da moda" recebiam gritinhos da galera por qualquer marola surfada, até saída de onda era recebida com "woohoo"...Já Raoni faz o diabo e neguinho nem vê...vai entender...Fez a melhor bateria sua do ano contra Bourez...perdendo por pouco.

Raoni num dos melhores tubos da primeira fase do WCT RJ.


Alejo, Jadson e Pupo eu só vi no heats on demand...e pude perceber que o segundo e o terceiro perderam para os supervalorizados Jordy e Aritz respectivamente, com o agravante que a primeira onda boa de Jadson (tubo mais 2 manobras) não foi julgada, foi ignorada (nota ridícula demais pra dizer que foi analisada), enquanto Alejo deu azar de Kerr achar as melhores ondas.

Quando acabou o campeonato do Rio, fiquei com uma impressão de que o careca, apesar de não ter feito nada demais, tinha se colocado em posição para arrancar para o décimo segundo título, já que liderava a peleja justamente na véspera de sua fase preferida do tour, Fiji, J Bay e Teahupoo (com Trestles de sobremesa).

No fim, esta impressão, ficou nisso mesmo, já que Bourez mostrou ao KS que a corrida ao título não será como ele planejou e em J Bay um inspirado Matt Wilko barrou novamente o careca precocemente, mas já chego na etapa sul africana.

Será que já deu pro Careca? Vê seu 12º caneco cada vez mais distante...



Fiji este ano comprovou o que os números de Medina já mostram. A derrota precoce em casa para um surfista que não chega perto de seu nível fez Fiji receber um Gabriel nos cascos, pronto para tudo e todos. Daqueles sujeitos que não aceitam o segundo lugar, uma mistura de Senna com Schumacher. Mortal, enfim.
E não deu outra...Vitória com requintes de crueldade para todos os outros...novos e velhos surfistas se viram com 10/15% a menos de projeção, velocidade, controle, táticas...enfim...imbatível. A coleção de escalpos do Medal já é cobiçada por tribos moicanas, tamanha a variedade e qualidade dos exemplares.

A Guarda compartilhada (novamente Mestre Adler) do surf mundial entre novos e veteranos em Fiji esse ano foi algo diferente, já que os moleques mostraram franca evolução numa onda outrora dominada exclusivamente por quem tinha milhagem no pico. E digo mais, os brasileiros (2 deles, com menção honrosa para Filipe) foram os melhores surfistas nesta etapa.

Creio que a única grande ameça à vitória de Gabriel nesta etapa se chamava Adriano de Souza, que estava surfando bem acima da média e perdeu para um surpreendente Kolohe Andino.
Mineiro foi facilmente o melhor surf de costas para onda que Fiji viu em 2014. Foi perfeito e quase derrubou Kolohe. Se tivesse passado, daria mais trabalho ao Gabriel. O surf, neste aspecto, lembra o futebol, já que nem sempre quem esta jogando melhor vence. Esta é a melhor definição para o resultado final da bateria entre Kolohe e Mineiro.

Filipe foi outro brasileiro que teve grande atuação em Fiji. Venceu o experiente Jadson e o marrento Jordy para ser garfado na bateria de 3 atletas contra KS e acabou sucumbindo na repescagem pré quartas. Isto é comum em competições de surf. O cidadão perde por pouco na fase de 3 atletas, as vezes até injustamente, e acaba perdendo melancolicamente na fase de repescagem...merecia mais...mas o US Open já estava no horizonte.

Dantas ainda terá outras chances por ali e Alejo vencendo Pupo vale a revista no heats on demand.

Mineiro tem sido o mais regular dos concorrentes ao título, mas precisa voltar a vencer logo se pretende levantar o caneco da temporada.



J Bay ficou dentro das expectativas de uma onda difícil de ser domada, especialmente pelos goofies e dois dos favoritos chegaram a final, com méritos, diga-se.

Ouso, contudo, discordar do especialista do canal woohoo que afirma que Parko ficou perdido na final...em verdade, ele estava era bem ligado e pecou na parte final de suas ondas, quando quis, em ao menos 2 oportunidades, ficar uma sessãozinha a mais dentro do canudo e morreu lá por dentro transformando notas 8 garantidas em notas 4 ou 5, já que não finalizadas, enquanto Fanning se preocupou com o score da onda, saindo (e completando) o tubo quando deu e garantiu 2 scores logo no inicio da final e matou Parko na esperteza de aproveitar a oportunidade quando aparecia. Parko até escolheu bem suas ondas, maiores e dropadas mais no outside, só não conseguiu finaliza-las.

Alejo foi o grande destaque tupiniquim nesta etapa. Mostrando a velha forma com patadas e rasgadas sempre regadas a muito estilo e força. Faltou reação contra o campeão da etapa nas quartas.

Medina e Mineiro também valem a menção, especialmente o primeiro, que perdeu por pouco numa bateria acirrada com Owen...arrancando um 9 e tal nos segundos finais. De qualquer sorte foram pontos importantes que ambos arrecadaram...

Owen voltou a velha forma. Fez bateria espetacular contra o lider do ranking e venceu!



Mas apesar de tudo, J Bay foi O show de Curren sobre o WCT...parecia o resgate do claim de Elko no meio da selva javanesa, durante uma das etapas em G Land, decretando aos berros "sou 2 vezes mais velho que vocês e entubo 4 vezes mais fundo..."!

Curren, me desculpe a palavra, chamou todos de merda! Caraca, surfou muito mais do que vemos habitualmente no circuito mundial. Mas muito mesmo...

Curren é um KS que chutou o balde! Explico: Curren venceu 2 títulos seguidos, 85/86, e meio que encheu o saco, aparecendo cada vez em menos campeonatos até o abandono do tour em 89 (ano sabático, se preferirem) isso tudo apenas para pintar sua obra prima em 1990, quando venceu o mundial vindo (em várias etapas) desde a triagem, algo como um wild card vencer o campeonato do mundo hoje em dia.

Dito isso, pode-se afirmar que Hardman, Lynch e Pottz tem muito a agradecer ao Curren, já que dificilmente venceriam seus títulos mundiais de 87,88 e 89 respectivamente, caso Tom fosse um faminto como é KS. Quiçá o segundo de Hardman em 91, o primeiro do próprio KS em 92 e o de Derek em 93 também estivessem em risco se a fome de Curren se assemelhasse a do careca. Temos aí, portanto, nada menos que 9 títulos do mundo que poderiam ser de Tom Curren...foda! Da até para falar algo parecido sobre Occy, que neste mesmo período (85/90) se afundava em drogas.

Sua primeira onda em J Bay com uma quadriquilha nos idos de 1992 já apontavam como o mestre supremo naquele pico...




Bom, voltando a peleja do Título Mundia de 2014, liderado atualmente pelo fenômeno de Maresias, Gabriel Medina, como disse lá no inicio do texto, penso que essa sua ligação intensa com a terrinha e sua família pode ser um ponto fraco seu, já que vemos em Mineiro um desapego que lhe permite sair de uma etapa em J Bay e ir para Costa Rica e Indonésia apenas para se preparar para a próxima etapa no Tahiti.

Esta fraqueza pode ser também um fonte de força nos momentos certos, como por exemplo após uma derrota inesperada, como ocorreu no Postinho, ou em suas apresentações em Trestles, quando costuma levar a familia, o cachorro e o piriquito. Mas acho que é uma questão de postura. Você pode apostar que um cara (como KS, Mick, Joel, Taj ou Mineiro) que esta disputando o título mundial não volta pra casa da mãe pra "recarregar" as energias, o cara vai pra algum lugar pra treinar, pra se aprimorar. Maresias tem altas ondas? Tem, mas pra fazer uma fisioterapia o cidadão já tem que pegar uma estrada...Filipinho neste ano, por exemplo pode surfar Trestles de manhã e pegar a melhor clinica do mundo a tarde. Mineiro já fez isso...Posso estar redondamente enganado, mas acho que esta postura deveria se adequar a realidade de sua posição como estrela do primeiro escalão do surf mundial.


Campeão do Mundo...senão este ano, muito em breve.



Este ano Gabriel lidera uma trupe interessante, senão vejamos: Em segundo no ranking temos a cobra criada, campeão do mundo em 2012, Joel, com dois nonos lugares como descartes, e mesmo sem ter vencido, já conta com duas finais no bolso. Em terceiro temos Mick, num ano irregular e já com dois descartes bem definidos, um 13 e um 25 que podem ser bem amargos lá na frente, especialmente se vier outro tropeço. Em quarto temos Taj com uma campanha um pouco pior do que a de Joel, e já com um descarte bem definido, um 13, mas convenhamos, Taj só vencerá o campeonato do mundo quando a ASP fizer uma caridade, estilo 99 e 2000 (Occy e Sunny). Em quinto vem a surpresa do ano, com uma campanha parecida com a de Mick, mas com 3 resultados ruins, ou seja, um deles irá somar. Em quinto temos KS, com apenas um resultado de descarte, tendo pela frente 3 eventos em que costuma ir bem e a Europa que já lhe tirou alguns títulos do mundo e por fim, em sexto, aquele que entendo ser o último concorrente ao título de 2014, Mineiro, sem nenhum resultado "ruim" na bagagem, tendo como piores aparições 2 nonos lugares.

O líder tem um descarte e grandes chances de se distanciar da raça com um resultado mediano no Tahiti apenas para a manutenção da liderança de modo a sair para sua perna preferida do ano em vantagem. Trestles e Europa (lugares onde já venceu) definirão o futuro do jovem brasileiro. Suas chances aumentam consideravelmente se não depender de grande resultado em Pipe, onde surfa bem, mas seus adversários diretos tem histórico infinitamente melhor lá.


JJ é minha aposta para o Tahiti.



Tahiti começa logo virando a esquina da semana com uma previsão interessante não tanto em termos de onda quanto em termos competitivos, já que além desta trupe acima descrita, temos vários cabras bons de onda tubular mal no ranking, como Raoni, Jadson, Saca, Jeremy, Aritz, Kai e Adrian.

Por fim, cabe falar que agora a brincadeira ficou cara para a "Nova ASP". Após bancar sozinha duas etapas, Fiji e J Bay...perguntas no ar:


  • Será que o patrocínio "mãe" da Samsung já cobria esses gastos? 
  • Esses gastos influenciam na realização destas etapas no próximo ano? 
  • Se tudo já estava programado em relação a $$$ porque não incluir em 2015 o G Land Pro, o Puerto Escondido Pro e o Eskeleton Pro bancados pela entidade?




habemos tubos from SURFOCRACIA on Vimeo.


E outra, trata-se de um ciclo de $$$ certo? Se as marcas não precisam mais bancar tantos eventos podem bancar mais e melhor os atletas, certo??? Afinal, nas etapas bancadas pela entidade do esporte, os atletas das marcas estão lá, aparecendo e consequentemente, dando retorno. Trata-se de crescer o esporte, com etapas em lugares melhores, com maior visibilidade e mais dinheiro e com atletas recebendo bem, pois não há esporte grande sem ESTRELAS...fato.


Ranking WCT 2014

1 Gabriel Medina (Bra) 36.150

2 Joel Parkinson (Aus) 34.400
3 Mick Fanning (Aus) 32.650
4 Taj Burrow (Aus) 31.950
5 Michel Bourez (Tah) 30.500
6 Kelly Slater (EUA) 30.350
7 Adriano de Souza (Bra) 30.100
8 Nat Young (EUA) 25.900
9 Kolohe Andino (EUA) 22.500
10 Josh Kerr (Aus) 19.700
17 Miguel Pupo (Bra) 13.700

20 Filipe Toledo (Bra) 12.500
23 Alejo Muniz (Bra) 10.200
28 Jadson André (Bra) 6.750
34 Raoni Monteiro (Bra) 3.000






WCT RIO 2014 II from SURFOCRACIA on Vimeo.